domingo, fevereiro 26, 2006

Nussa, fiquei tanto tempo sem postar... Foi mal. Mas a Amy escreve melhor q eu menso, então nem importa =P, mas enfim, é q eu tava sem criatividade mesmo (se é que algum dia eu já tive). Então taí, um textinho p vcs.

Mto boa a img né =D :doido: :fodaum:




Capitão

Nunca esteve no deserto, mas ouviu dizer que as pessoas costumavam ter alucinações e morrer caminhando em direção ao nada, então supunha que não devia ser muito diferente do que estava passando naquele momento.
Havia partido há meses e parecia nunca chegar ao destino, o mar sempre lhe pareceu amedrontador mas agora era, acima de tudo, uma cela, uma prisão e estavam todos no corredor da morte. Não havia paredes e nem grades, mas isso não dava nem um pouco da sensação de liberdade que todos desejam. Toda aquela vastidão azul parecia prestes a engoli-lo junto com seu barco.

De fato haviam se desviado muito da rota inicial e agora não sabiam exatamente onde iriam chegar, estavam simplesmente navegando em linha reta, na direção oeste.

[...]Estamos praticamente sem mantimentos há alguns dias, temos que racionar mas nem assim nossa comida duraria por uma semana sequer. Minha pequena tripulação já se reduziu a pelo menos metade daquela que embarcou, e não sei por mais quanto tempo agüentaremos.[...]

Seguiram-se alguns dias e a comida acabou, a tripulação foi dizimada pela desnutrição, desidratação, e todos tinham pequenas hemorragias por escorbuto.

[...]Minhas gengivas sangram a cada mordida que dou no pão seco e escasso que ainda nos resta. Estou temeroso quanto ao nosso destino, realmente foi um duro golpe do destino termos perdido nosso astrônomo e nossos instrumentos de navegação naquele naufrágio, mas lamentar as perdas só tornará ainda mais cansativa esta empresa, que tornou-se agora uma corrida pela sobrevivência[...]

[...]Esta noite tive a impressão de ter visto pássaros, mas não alertei aos poucos sobreviventes de minha brava tripulação, pois a última coisa que quero é criar falsas esperanças. Afinal não quero que se decepcionem comigo e é bem possível que a insolação já esteja me provocando delírios.[...]

[...]Me sinto mais fraco do que nunca me senti antes, só restam, além de mim, mais três tripulantes, que estão com a saúde em situação tão precária quanto a minha, dois deles estão desacordados no momento, sendo que um desses teve convulsões várias vezes nas últimas horas. Manter-se de pé é uma tarefa árdua e todos aqui vão apenas deitar e esperar pelo fim. Um capitão sempre afunda com seu navio e este está prestes a afundar-se, quando o último homem der seu último suspiro, então toda a jornada estará perdida, e eu afundarei.

Espero que não seja a última vez que seguro a pena, mas direi adeus, e repousarei em meu leito sonhando se algum dia alguém lerá estas palavras. Sem remorsos. Adeus.

--Vamos nos aproximar daquele navio, parece estar vazio.
-- Meu rapaz, isso pode ser um truque de piratas.
-- Talvez, mas aproxime-se mais um pouco para vermos melhor, afinal, estamos muito bem armados.
-- Tem certeza que quer correr o risco?
-- Certamente que sim. Pode estar abandonado e talvez tenha algo que nos seja útil lá dentro.
-- Então vamos.

E aproximaram-se da embarcação, como não havia qualquer tipo de reação e não se via qualquer tripulante parelharam-se à bombordo e desceram no convés. Bateram algumas vezes à porta da cabina do capitão, e como não recebiam qualquer resposta, adentraram. Viram um homem deitado ali. A princípio achavam que estava morto mas checando sua pulsação percebia-se que ainda estava vivo.

Procuraram pelo restante da tripulação daquele navio, e encontraram um morto e dois tão fracos quanto o capitão, sequer abriam os olhos.

“O que é isso afinal? Será que já estou morto? Quem será que está me batendo?”

--Ei homem, acorde.

E ele lentamente começou a abrir os olhos.

--É parece que finalmente teve um pouco de sorte. Espero que não se importe, mas li seu diário!



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~~ comenta né meu filho!? Mesmo que seja pra me insultar... pensando melhor, se for me insultar é melhor ficar calado. =S ~~

terça-feira, fevereiro 21, 2006

olá o/
bem, se o may não atualiza, eu atualizo u.ú
a idéia para esse continho apareceu em uma aula chata de matemática, e ele foi escrito rapidinho, ontem à noite.
não ficou muito bom não, mas vá lá...sejam bonzinhos.
comentem!!!! =***

Hora da Despedida

De detrás da árvore, Charlotte apertou os olhos para ver melhor a sombra que se aproximava - e sorriu.
Era ele. Mesmo em uma noite escura como aquela, em um lugar quase sem iluminação como a praça em que se encontravam, em plena meia-noite e àquela distância, ela o reconheceria. Ninguém mais tinha aquele jeito imponente de andar, e nem aquele jeito tão amável de mancar do pé direito. Ninguém mais jogava os cabelos para trás a cada dez segundos daquela forma... Enfim.
Ele era inconfundível. Bonito, charmoso, simpático, querido...Não precisava ter o destino que teria.
Não precisava.
Charlotte lamentava tanto por ele! Ele merecia muito mais do que receberia... Doía para ela ver a desgraça se concretizar sem fazer nada para mudar. Mas o que ela podia fazer?
O único que poderia ter mudado tudo era ele próprio. No entanto, ele não quisera, e agora era tarde demais.
Já estava tudo feito.
Com um sorriso terno e um brilho apaixonado no olhar, ela acompanhou os movimentos dele até que ele estivesse sentado em um banco a menos de três metros de distância da árvore atrás da qual ela se escondia, e então se encolheu um pouco e prendeu a respiração para que ele não notasse sua presença.
Por um momento, ela se esqueceu de tudo. Do porquê de ela estar ali, escondida atrás daquela maldita árvore, observando secretamente seu jovem amado. Do porquê de ele estar sentado naquele maldito banco à meia noite olhando o horizonte atentamente...
De tudo. Só pensava em tudo o que tinha acontecido, no quanto ela amava aquele ser e no quanto o queria para si outra vez.
Tais pensamentos e lembranças deixaram-na tão leve e feliz que era difícil conter os suspiros, tudo o que sentia simplesmente explodiu dentro de seu peito...
Era como uma convulsão.
Mas então se lembrou do porquê de ela estar ali, escondida atrás daquela maldita árvore, de ele estar sentado naquele maldito banco à meia noite olhando o horizonte atentamente, e principalmente, o porquê de ela não tê-lo mais para si.
Samantha. A segunda sombra que surgia ao longe naquela noite escura. Só de pensar que seu amado havia deslocado-se àquela hora para aquele lugar isolado só para ver aquela... aquela coisa, as mãos de Charlotte se cerraram com força, as unhas cravando-se nas palmas, quase ferindo. Quase, ainda.
Chegaram a ferir e arrancar sangue quando o casal de pombinhos se beijou apaixonadamente bem em frente à pobre jovem escondida.
Droga, droga, droga!
Até a desgraça daquela vaca, Charlotte invejava. Samantha acabaria da mesma forma trágica que seu adorado garoto, e por mais terrível que isso fosse, Charlotte a invejava. Ela também queria acabar junto com ele, seguindo-o onde quer que fosse... Mas não.
Samantha, sempre Samantha.
Se bem que essa inveja toda não fazia sentido algum, uma vez que se Samantha nunca tivesse aparecido, o rapaz teria pela frente um futuro maravilhoso ao lado de Charlotte.
Bah, era uma situação complicada. Complicada demais até para se pensar, até porque não havia muito tempo.
A jovem rejeitada olhou no relógio e mal pôde conter um resmungo contrariado. Queria tanto ficar mais tempo lá, admirando seu querido (mesmo que isso significasse observar Samantha também), despedindo-se de seu rosto para sempre...
Mas não podia. Direcionou um último olhar de ódio a Samantha e gastou dois segundos observando a face do amado, gravando os traços tão belos em sua memória.
“Adeus, meu querido... Eu te amo. E sinto tanto... Tanto...” disse, mentalmente, antes de abaixar-se, embrenhar-se no meio dos arbustos e sair correndo o mais silenciosamente que podia pelo meio deles. Logo, a bomba que ela havia posto debaixo do banco explodiria...E ela não estava com muita vontade de ser atingida...
Gostaria de pedir desculpas pela falta de atualizações, nós não abandonamos o blog, e pretendo atualizar até sábado. Xauzin, e comentem (os outros posts, não este =P)

terça-feira, fevereiro 14, 2006

tá, aqui estou eu, de novo.
o texto a seguir tem o título que tem por causa de uma música, na qual ele foi inspirado.
não consegui pensar em um melhor, então ficou esse mesmo u.ú
aviso que não ficou grande coisa, mas peço encarecidamente que comentem ;]

Vermilion

Acordou com o toque dos lábios dele em seu pescoço e sorriu de leve quando, ao abrir os olhos, viu aqueles cabelos escuros e perfeitos.
Ele levantou o olhar.
-Já não era sem tempo, bela adormecida... – sussurrou, e ela estremeceu ao som da voz tão amada.
Ele era tão lindo... Tão gentil, tão carinhoso...Era muito mais do que ela havia sonhado possuir.
Ela pôde contemplar aquele par de olhos expressivos parados diante dos seus por um momento, emoldurados pelas mechas de cabelo que caíam devido à posição horizontal em que se encontrava antes de sentir os lábios macios acariciando os seus primeiro suavemente, depois com mais urgência.
O beijo dele... Ela conhecia cada detalhe, cada momento, cada toque, cada sabor... E amava todos.
-Amo você... – ela sussurrou, quase febril, quando finalmente se separaram em busca de ar. Ele sorriu.
Deus, como ele podia ser tão perfeito? Ela não sabia o que era melhor. Sentir o toque dele, buscar desesperadamente mais contato com o corpo dele, desaparecer naquele abraço e derreter no cheiro dele ou ficar simplesmente admirando cada traço, cada linha de expressão, cada movimento, cada suspiro.
Podia ficar o resto da vida fazendo qualquer uma das duas coisas! Ele era perfeito... Perfeito...
Ele sentou-se na cama com um lençol enrolado na cintura, falando algo sobre o dia anterior. Narrando, mais precisamente.
Que personalidade...
Levantou-se também e abraçou-o por trás, beijando-lhe o ombro e respondendo o que tinha dito.
Conversaram longamente sobre tudo e todos. Era tão bom falar com ele... Era tão bom saber que ele quase sempre pensava como ela... E que quando não pensava como ela, pensava o que ela precisava que ele pensasse...
Ele era perfeito demais para ser real.

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Acordou em um pulo por causa do barulho do despertador, e seu sorrisinho sonhador não sobreviveu ao susto.
Olhou em volta. Estava sozinha. E estava tão frio...
Tudo o que ela queria era alguém para abraçá-la naquele momento.
Esticou o braço ao lado para socar o irritante despertador que ainda apitava e roçou em uma folha de papel que jazia esquecida em seu criado-mudo. Puxou-a.
E o conteúdo daquela folha deixou-a com os olhos marejados e sorrindo ternamente.
Era um desenho. Dele. Feito por ela mesma, é claro.
Não poderia ter sido feito por outra pessoa, uma vez que ela o havia criado.
De sua prisão branca, ele sorria e mandava-lhe um olhar confortador. Mandaria sempre...
De certa forma, ele sempre estaria lá para ela.
De certa forma.
Ele nunca entraria pela porta. Nunca a abraçaria. Nunca sussurraria coisas em seu ouvido. Ela nunca ouviria a voz que amava tanto...
Nunca teria, enquanto acordada, que escolher entre contemplá-lo e senti-lo. Teria que contentar-se somente em admirá-lo e senti-lo apenas em sua mente e seu coração.
Porque ele era perfeito demais para ser real.
E por isso, não o era.
Nascera da mente da amada e ali viveria para sempre. Aprisionado.
Era o preço que ambos tinham a pagar por ousarem ser tão felizes enquanto ela sonhava...

quarta-feira, fevereiro 08, 2006


Vou colocar um título bem pouco atrativo para um texto do qual não se deve esperar muito. Assim sendo não haverão decepções de quem se dispuser à lê-lo.

Tedioso
Não citarei o nome de minha personagem, não acho que alguém se importaria e não acho que vá fazer alguma diferença. Não direi seu nome por não ter pensado em nenhum ou talvez não ache que seja necessário, pois ela será a única pessoa deste texto.

“Fazia tempo que estava atormentada pelas preocupações impostas pela rotina... (Ah, a rotina! Vício que mata mais lenta e impiedosamente do que qualquer doença.)
Levantava-se cedo, trabalhava até tarde, chegava exausta em casa, precisava dormir e quando acordava novamente, já era hora de ir trabalhar.
Aquele maldito despertador tocou. Contrariada, levantou-se e foi escovar os dentes. Parou diante do espelho – um amigo (pois seria sempre sincero) e um insensível (pois seria sempre sincero) – olhou aquele rosto cansado, com pequenas rugas perto dos olhos e na testa (não pela idade, mas principalmente pelo stress), levou pesadamente a mão macilenta para a torneira, abriu-a e lavou o rosto. Tornou a encarar a figura no espelho. Apesar da expressão dura, seus olhos amendoados ainda conservavam o brilho que tinham desde os quinze anos, o feitio era exatamente o mesmo, linda, mas com seu brilho ofuscado pela neblina de inquietação provocada por seus deveres. Deu um tímido sorriso para si mesma e escovou os dentes.
Ainda de pijama, sentou-se à mesa da cozinha e tomou seu chocolate quente e comeu um pedaço de bolo. Normalmente não tinha tempo para tomar café-da-manhã em casa, mas dessa vez havia programado o despertador para tocar alguns minutos mais cedo.
Contemplou a bela vista que seu apartamento proporcionava. Havia o escolhido apenas por causa da vista. Mas há quanto tempo ela não parava para observar... Sentou-se na varanda por poucos minutos e levantou-se para ir trabalhar.

Foi só mais um dia exaustivo cercado de pessoas medíocres e falsas intenções. Mas ela [infelizmente] já se habituara a isso tudo.

Voltou às sete horas da noite, apesar do expediente não ser muito longo ela sempre levava muito trabalho para casa e acabava por perder noites de sono.
Mas dessa vez o primeiro livro que abriu ao chegar em casa, foi uma pequena agenda, onde guardava o telefone de amigos antigos. Viu dois números que lhe chamaram a atenção, pois eram amigos que eram especiais e de algum modo, por sadismo do destino, havia perdido contato há alguns anos, e decidiu ligar.
Para sua sorte os números ainda perteciam aos seus antigos amigos.
Não queria dizer nada em especial. Queria apenas ouvi-los contar-lhe, com suas próprias vozes, como foi o dia.
Ela ainda pretende reencontrá-los e sente que isso será em breve.”

A história, daqui por diante, ainda está para ser escrita, mas não esperem que eu a conte. O que acontece após isso fica à critério de sua imaginação.
Direi apenas que terá um final feliz, e isso já me basta.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

nussa, tem um tempinho que a gente não posta....
mas não, nós não abandonamos o blog u.ú
não tão cedo. não antes de pentelhar todo mudno com ainda mais textinhos nossos.
a quem comentou.. muito obrigada. por mim e pelo may

aí vai mais um textinho. é parte de uma série XD~ mas eu nunca fiz o resto...
e a poesia que a sarah fala foi escrita pela minha queridíssima amiga liv \o/
liv.. amo você, pequena.
e vale lembrar que esse texto foi escrito de presente de aniversário pra iiiiiiisa =*** já há um bom tempo o.O



Ocean soul

“Should I dress in white and search the sea
As I always wished to be
One with the waves – an ocean soul”
Ocean Soul, Nightwish

Corria solitária e silenciosamente, a areia da praia alojando-se entre seus dedos brancos. Lágrimas. Lágrimas para todos os lados! Vindas de todas as direções possíveis e imagináveis: do céu, do mar e de seus olhos.
- Rosa, símbolo do amor
Rosa vermelha,
Feita de sangue
Sangue inocente
Derramado por amor... - balbuciava, entorpecida, antes de sentir um nó apertar-lhe a garganta e soltar um soluço involuntário. Levou a mão trêmula até a boca e diminuiu o ritmo dos passos, as pernas já sem forças para prosseguir.
- Amor que não existe
Consiste apenas em uma lembrança...
Uma rosa,
Minha herança
Sentiu o peso de seu corpo desabando sobre os joelhos. As duas mãos agora cobriam todo o rosto alvo e angelical, abafando o pranto angustiado e escondendo a fraqueza de seus olhos, que já não estavam mais brancos, mas sim vermelhos como a rosa que carregava presa a seu vestido ou o sangue que constantemente arrancava de si mesma. Os resquícios de uma onda já extinta atingiam seu vestido branco, encharcando o tecido que conseguia alcançar. O mar estava inquieto aquela noite; castigava, furioso e impiedoso,cada palmo de areia das margens, fortalecido pela água da chuva. Aliás, toda a natureza parecia se unir em um pacto negro, almejando ferir cada ser ou objeto que atravessasse seu caminho.
Sarah sorriu ao sentir o vento gelado cortar a pele sensível de sua face. A natureza era sua aliada. Dera-lhe sua roseira, e agora lhe ajudaria a descansar. Finalmente, tudo estaria como nunca deveria ter deixado de estar. Ela seria reduzida a uma mera lembrança, um suspiro levado pelo vento. Voaria por toda a terra, finalmente livre do peso de impedir a felicidade de alguém e livre também daquele que impedira a sua.
Com o olhar perdido, numa espécie de transe, começou a arrastar os joelhos pela areia molhada até reerguer-se e então recomeçar a caminhar, desta vez com passos lentos, quase deslizando pela superfície como um anjo em meio à escuridão.
- O vento carrega,
Aos poucos
Suas pétalas
Se ela estivesse realmente enxergando alguma coisa, diria que seus cabelos lhe atrapalhavam a visão apesar do vento feroz jogá-los para trás... Mas não estava. Só enxergava a escuridão do oceano fundida à negritude do céu em prantos.
- Leva o que o tempo não levou
Apaga o que o fogo não apagou
Arqueou as costas, a pele de sua nuca arrepiando-se de frio. A água já lhe atingia os joelhos. O fim tão esperado estava próximo...
- A beleza se foi
Só me restam agora os espinhos,
A dor de perder esse amor...
Mesmo sabendo que ele nunca existiu
Um sorriso estranho e sinistro jazia, estampado em seu rosto, desenhado pelos lábios já roxos e trêmulos. Natureza bondosa... Sua amada aliada...
- E com eles a me perfurar
Sonho em um dia poder
Rosa me tornar
A rosa rubra e inerte escorregou por entre seus dedos e afundou, desaparecendo em meio à água e deixando para trás a maioria de suas pétalas, que a jovem deixou voar com o vento. Em breve, seria ela a voar com o vento...
- E quem sabe assim me juntar
A quem por mim sangue derramou.
Uma onda a atingiu em cheio nas costas, fazendo-a tombar. O gosto salgado e amargo do mar invadiu sua boca sem aviso, mas ela já estava acostumada. Lágrimas também eram salgadas e amargas, afinal. As poucos, foi afundando, arrastada com força pela correnteza e atingida freqüente e impiedosamente pelas ondas. Doía. Céus, como doía. O frio, as pancadas, a falta de ar... Tudo.
Sentiu vontade de gritar, mas não conseguiu. Por mais que tentasse, não conseguia mais manter seus olhos abertos! Não eram só os olhos, mas todo o seu corpo se recusava a obedecer suas ordens. Algumas feridas que fizera no dia anterior haviam se aberto, mas não sangravam. Apenas doíam, latejavam.
Seus braços e pernas formigavam, e uma estranha e engraçada sensação de torpor apossara-se dela. Estava zonza, não duraria mais nem um segundo consciente. Já não lhe restava mais nada, nem tempo. Era tarde demais para voltar atrás, para seu alívio. Dessa vez, havia conseguido. Finalmente, depois de anos de covardia. Sorriu mentalmente antes de tudo dissolver-se diante de seus olhos, preparada para o fim, que aguardava de braços abertos...
De repente, sentiu-se empurrada para a superfície, e, logo em seguida, envolvida por dois braços quentes e protetores. Seria um anjo buscando sua alma? Como seria o rosto de um anjo? Devia ser realmente reconfortante vê-los sorrir ternamente. Mas não tinha forças para abrir os olhos. Estranho. Já estava morta, deveria estar livre de todas as dores, toda a fraqueza que lhe afligia o corpo enquanto estava viva. E onde diabos estava deitada? Sim, não estava mais à deriva, já não podia mais sentir o mar castigando-lhe a pele. Estava deitada suavemente sobre uma superfície dura, e uma espécie de cobertor fora posta sobre seu corpo. Era tão quente e confortável... Mas ainda assim, sentia frio!
-Shhhhhhhhhhhhhh... Vai ficar tudo bem, eu espero. Você é maluca? Bem, não é a melhor hora para lhe perguntar as razões para ter feito essa maluquice. Deixa para outra hora. Você é tão bonita... Não devia se arriscar tanto. Devia, sim, fazer uma estátua de si mesma e guardar em um lugar seguro, para que seu rosto não caia no esquecimento. Assim como eu devia me internar em um hospício.. Estou ficando louco... Onde já se viu, falar com jovens suicidas e desacordadas quando deveria estar remando de volta para a costa? Ah... Quem se importa?
Que espécie de anjo tagarela era aquele? Tão diferente do que ela costumava pensar... Sempre pensara que, quando morresse, um anjo cantaria em seus ouvidos e diria, num sussurro leve como uma brisa, que sua mãe esperava por ela em algum local não muito distante.
Onde estava sua mãe? Não estava esperando por ela? Se estava, o anjo não queria lhe avisar. Anjo esquisito, aquele. Sim, era inegável que sua voz era calma e reconfortante, mas ainda assim, ele era um anjo estranho.
Ouviu um barulho, e logo em seguida, parou de sentir o mar se agitando por baixo da superfície na qual estava deitada. Que estranho...
-Será que você vai mesmo ficar bem? Está tão fria que, se eu não tivesse sentido seu pulso, diria que está morta.
Ainda falando, o anjo a abraçara, envolvendo-a com algo quente e macio que parecia ser seu par de asas. Curtas demais para serem asas, é verdade, mas o que mais seriam se não asas?
-Minha... mãe........ – balbuciou, tão baixo que mal se podia ouvir.
-Ah.. Acordou, é? Que bom.
Com dificuldades, Sarah abriu os olhos. Primeiramente, não viu nada além de vultos estranhos e disformes, mas depois as imagens foram se organizando, e então pôde ver seu anjo. Não era muito diferente de um garoto normal, com grandes olhos castanho-esverdeados que a fitavam, preocupados. Os cabelos eram ondulados, da cor do mel, ultrapassando por pouco a altura dos ombros e a pele era ligeiramente bronzeada.
-Anjo..?
O menino-anjo riu alto.
-Não, não sou um anjo. Sou só um pobre mortal que estava passando por aqui, pensando na vida quando viu uma louca indo ao encontro do mar e resolveu dar uma de herói e salvá-la.
Uma lágrima solitária escorreu pela face de Sarah.
-Eu... você... você não devia! Devia ter deixado! Por quê fez isso comigo? Seu.. eu te odeio...... – apesar de estar falando baixo e pausadamente, seu tom de voz era carregado de ódio e rancor.
-Tá, grite comigo depois, ok? Já que atrapalhei seus planos, deixe eu fazer o serviço completo e te ajudar. Onde você mora?
-... Não quero ir pra lá.
-Como se chama?
-Sarah...
-Ah. Meu nome é Julian. Vem. Vou te levar para algum lugar e cuidar de você. Seus pais não ficam preocupados?
-Não é do feitio de meu pai se importar com alguém...
-Ah. Acho que entendi por quê você queria que o mar te engolisse. De qualquer forma, vou te ajudar. Sabe, a vida pode ser realmente legal, se assim quisermos, sabia? Ela é como queremos que ela seja.
-Ilusão...
Julian sorriu.
-Não fale. Conversamos mais tarde, ok?
Mal ele acabou de falar e a jovem fechou os olhos, perdendo novamente a consciência.
-Hum... Boa garota.
E então, o jovem Julian suspirou e pegou-a no colo. Por que sentira aquela vontade repentina de ajudá-la, ele não sabia. Mas sabia, sim, que, a menos que estivesse muito enganado, os dois teriam muito o que conversar e compartilhar... Ele e aquele misterioso anjo alvo que ele salvara da morte.

Fim



beijos, e comentem =**