terça-feira, maio 16, 2006


Post.
Acho que dessa vez vai. (Comente por favor ¬¬)

Anjo de Cera


Doentio. Era a única palavra que poderia descrever a sensação que aquele cenário transmitia aos espectadores daquela cena bizarra. Como alguém poderia ter feito algo assim?


Ele estava escondido dentro daquele pequeno barco, aguardando-a para seguí-la e pôr em prática seu plano. Diabólico, artístico, belo, macabro. Era sua obra. É como seria lembrado, mesmo que seu verdadeiro nome fosse desconhecido.

Aquela pobre jovem. O que seria dela se sua vida seguisse seu curso natural? Uma casa pequena, com muitos filhos, uma vida de submissão que era vista por muitos naquele lugar como a única forma de contentar ao Senhor e de portanto, ser feliz. Mas tamanha beleza e jovialidade deviam serem conservadas para sempre.

O Sol desaparecia por detrás das colinas na outra margem do rio. Era a hora.

Andava alegremente mesmo depois do trabalho duro no tear. Sozinha, com os cabelos castanhos ao vento, aquela frágil e indefesa criatura quase despertava um sentimento de piedade no coração daquele que a amava e que a espreitava.

Esperou até que ela tivesse avançado alguns metros além do ponto onde estava o barco onde se escondia. Levantou-se, caminhou até ela e com um movimento rápido tampou-lhe a boca e as narinas com um pano impregnado com um forte anestésico que a fez adormecer quase instantaneamente.

Carregou o corpo de belas formas até uma pequena cabana que ficava um pouco mais para dentro da floresta e entrou. A banheira, já preparada, fumegava levemente e desprendia um doce aroma floral. Despiu-a e mergulhou-a na água quente. Seu corpo era magnificamente belo, tinha seios arredondados com mamilos ligeiramente rosados como seus lábios, suas ancas faziam uma curva suave até as pernas torneadas, a púbis era coberta por poucos e curtos pêlos castanhos que pareciam dourados quando refletiam a luz espectral das velas que iluminavam o ambiente.

Pôs a mão em seu colo e afundou-a até cobrir totalmente seu rosto e seus cabelos sob a água. As bolhas de ar que saiam de suas narinas eram acenos de despedida que a vida dava àquele belo corpo.

Retirou-a da banheira e colocou-a sentada no sofá vermelho de veludo e com aquele modelo esculpiu com cera, a mais perfeita representação da beleza humana, passou horas, certamente mais de um dia inteiro, pois quando a estatuária estava pronta já era noite novamente mas seu trabalho não estava terminado.

O corpo merecia descansar.

Colocou-a, ainda nua, em um belo caixão de mogno sustentado por pedestais de bronze e adornado com pétalas de rosas vermelhas. Em frente ao caixão, estava o sofá vermelho sobre o qual foi colocado a escultura, a representação imóvel da perfeição.

Sua obra estava concluída. Precisava agora deixar uma marca, então, com uma pequena lâmina, cortou o pulso esquerdo, e com o sangue que brotava daquela ferida, pintou de vermelho os lábios de sua escultura. Precisava agora sair da cabana, pois não merecia perecer ao lado de tão adorável criatura. Andou cambaleante até a porta e morreu observando o luar prateado que lhe fez companhia em seus últimos instantes.

E lá ficaram, até então.

Um anjo de cera guardando um anjo de carne.

A beleza admirando seu próprio fim.

quinta-feira, maio 11, 2006


Olá!!!!

Nossa, quantos séculos que eu não atualizo isso aqui, hein?
Pois é. Culpa do ballet. Concurso no RJ, aula de duas horas todo santo dia, ensaio sempre, às vezes até no sábado e em feriado...@_@
Sem falar nos amigos. Enfim, ando meio ocupada. E eu sempre passava aqui, via os comments e pensava 'putz, hoje eu tenho que escrever!'. Só que ou batia uma preguiça do mal ou a inspiração não vinha de jeito nenhum. Mas felizmente, hoje a aula de literatura me inspirou e saiu esse bebê aqui, baseado numa foto que uma amiga minha passou (sim, a foto em questão é essa aí do lado).
Eu sinceramente esperava que ficasse melhor, mas... Bla. Eu sempre espero u.u'
Interpretem como quiserem ^.~ eu escrevi pensando em uma coisa e o May leu e pensou em outra totalmente diferente. Mas me falem depois o que acharam, please? ó.ò

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Amada Lua...

Corria o mais rápido que podia mesmo sabendo que suas pernas já não agüentavam mais; doíam.
Estava ofegante, suado e cansado. Seus olhos estavam arregalados, transbordando um pavor e uma agonia capazes de afligir até mesmo a lua cheia, única testemunha daquela cena tão deprimente.
“Merda” gemeu, olhando o sangue manchar sua mão devido a uma tentativa vã de permanecer em pé. Sua ferida latejava e seus joelhos pareciam quebrados, pois ele havia caído sobre eles no mármore que, por sua vez, logo estaria banhado de sangue e lágrimas.
Como em toda lua cheia.
Era sempre assim. Ao final de quatro semanas, ela sempre aparecia e surtia sobre ele os costumeiros, porém nada bem-vindos efeitos. Como um ritual.
Seu ritual macabro de amor e dor.
E já fazia tanto tempo...
Ergueu-se, trêmulo, apoiando-se na estatueta mais próxima e seu pranto recomeçou quando ele contemplou a paisagem.
Lápides...Crucifixos...Flores...Anjos...
Morte.
Enquanto mancava por entre os túmulos, fitava longamente os muitos sobre os quais já havia chorado. Tantos anjos que ele guardaria na memória para sempre...
Mas naquela noite, a lua cheia o chamava até o dela.
“Lily...” sorriu ternamente, deslizando os dedos sobre o nome do anjo adorado. Ela fora sua presa, seu refúgio... A chave para a realização de seus desejos.
Lily... Ele ainda tinha fresco no pensamento aquele sorriso branco e puro. Aqueles olhos escuros e brilhantes, a tez pálida e macia. Os longos cabelos dos quais ele ainda carregava uma mecha para sentir sempre que quisesse o odor suave.
Ela era doce. Doce e ingênua. E bela como a flor cujo nome ela carregava...
Quando olhava para a inscrição no mármore, ele quase podia ver o tórax da jovem palpitar com sua respiração, o olhar entorpecido e suplicante... Quase podia sentir a maravilhosa sensação do corpo dela se contorcendo sob o seu até que o momento em que ela fecha os olhos, exausta. E depois, como sempre, ele ficava encarapitado na janela, vigiando com um sorriso o sono angelical da moça e sentindo descer por sua garganta abaixo o líquido rubro que o levava à loucura.
Chorou abraçado à cruz daquela sepultura pelo que pareceram horas, e só não manteve a situação por mais tempo porque sabia que não podia se dar ao luxo de ser apanhado pela luz. Tinha que deixar o lugar ainda acompanhado de sua cúmplice cruel, a lua...
Beijou a fotografia da pequena fada que um dia se entregara a ele por inteiro e, após virar as costas e dar os primeiros passos em direção ao portão, riu. Riu como louco e então voltou a correr.
Tudo aquilo era um vício. Algo que se repetia sempre e sempre. E era tão doloroso... Mas ainda assim, tão patético! Se alguém além de seu amado satélite tivesse presenciado a cena que se passara sobre o túmulo de Lily, presumiria que os dois haviam vivido uma longa e bela história de amor.
No entanto, aquela impressão não poderia estar mais errada. Ela, assim como todos os ‘anjos’ que lhe haviam arrancado lágrimas naquele cemitério, só haviam compartilhado com ele uma única noite.
Uma noite de lua cheia.
Chegava a ser gozado o modo como as aparências enganavam. Realmente, aparências eram traiçoeiras na maioria dos casos.
Esse deve ter sido o último pensamento de Lily. E de todos os seus anjos queridos. Afinal, nenhuma delas pensou, quando o conheceram, que ele não era apenas um moço bonito e simpático, mas sim um assassino psicopata que matava para satisfazer a imponente amada que brilhava no céu.