Post.
Acho que dessa vez vai. (Comente por favor ¬¬)
Anjo de Cera
Doentio. Era a única palavra que poderia descrever a sensação que aquele cenário transmitia aos espectadores daquela cena bizarra. Como alguém poderia ter feito algo assim?
Ele estava escondido dentro daquele pequeno barco, aguardando-a para seguí-la e pôr em prática seu plano. Diabólico, artístico, belo, macabro. Era sua obra. É como seria lembrado, mesmo que seu verdadeiro nome fosse desconhecido.
Aquela pobre jovem. O que seria dela se sua vida seguisse seu curso natural? Uma casa pequena, com muitos filhos, uma vida de submissão que era vista por muitos naquele lugar como a única forma de contentar ao Senhor e de portanto, ser feliz. Mas tamanha beleza e jovialidade deviam serem conservadas para sempre.
O Sol desaparecia por detrás das colinas na outra margem do rio. Era a hora.
Andava alegremente mesmo depois do trabalho duro no tear. Sozinha, com os cabelos castanhos ao vento, aquela frágil e indefesa criatura quase despertava um sentimento de piedade no coração daquele que a amava e que a espreitava.
Esperou até que ela tivesse avançado alguns metros além do ponto onde estava o barco onde se escondia. Levantou-se, caminhou até ela e com um movimento rápido tampou-lhe a boca e as narinas com um pano impregnado com um forte anestésico que a fez adormecer quase instantaneamente.
Carregou o corpo de belas formas até uma pequena cabana que ficava um pouco mais para dentro da floresta e entrou. A banheira, já preparada, fumegava levemente e desprendia um doce aroma floral. Despiu-a e mergulhou-a na água quente. Seu corpo era magnificamente belo, tinha seios arredondados com mamilos ligeiramente rosados como seus lábios, suas ancas faziam uma curva suave até as pernas torneadas, a púbis era coberta por poucos e curtos pêlos castanhos que pareciam dourados quando refletiam a luz espectral das velas que iluminavam o ambiente.
Pôs a mão em seu colo e afundou-a até cobrir totalmente seu rosto e seus cabelos sob a água. As bolhas de ar que saiam de suas narinas eram acenos de despedida que a vida dava àquele belo corpo.
Retirou-a da banheira e colocou-a sentada no sofá vermelho de veludo e com aquele modelo esculpiu com cera, a mais perfeita representação da beleza humana, passou horas, certamente mais de um dia inteiro, pois quando a estatuária estava pronta já era noite novamente mas seu trabalho não estava terminado.
O corpo merecia descansar.
Colocou-a, ainda nua, em um belo caixão de mogno sustentado por pedestais de bronze e adornado com pétalas de rosas vermelhas. Em frente ao caixão, estava o sofá vermelho sobre o qual foi colocado a escultura, a representação imóvel da perfeição.
Sua obra estava concluída. Precisava agora deixar uma marca, então, com uma pequena lâmina, cortou o pulso esquerdo, e com o sangue que brotava daquela ferida, pintou de vermelho os lábios de sua escultura. Precisava agora sair da cabana, pois não merecia perecer ao lado de tão adorável criatura. Andou cambaleante até a porta e morreu observando o luar prateado que lhe fez companhia em seus últimos instantes.
E lá ficaram, até então.
Um anjo de cera guardando um anjo de carne.
A beleza admirando seu próprio fim.